O campo arqueológico da antiga localidade de Magdala © DR
A diretora do Instituto Magdala de Israel não tem dúvidas que Maria Madalena foi “uma mulher de posses, muito influente e chave” na vida de Jesus. Jennifer Ristine faz uma releitura de uma protagonista histórica quem em 591 o papa Gregório Magno denegriu ao ratificar o seu estatuto com a qualificação de “prostituta” e que séculos depois, em 2016, o atual papa Francisco recuperou da maledicência ao dar-lhe o estatuto de santidade, ou seja o mesmo nível dos apóstolos.
Jennifer Ristine faz estas afirmações no livro que regista a sua investigação em torno de Maria Madalena e da antiga cidade de Magdala, publicado em julho, intitulado Maria Madalena: perceções a partir da antiga Magdala. A grande questão que o livro de Jennifer Ristine vem colocar é a de se Maria Madalena era ou não adúltera. A autora contrapõe que essa qualificação pode não estar correta e que a seguidora de Jesus era “uma mulher de posses que vivia numa terra rica”, situação que Ristine, apoiada nas releituras bíblicas face aos achados arqueológicos na cidade de Magdala, permite rever o perfil de quem sempre foi conotada com a prostituição.
Para Jennifer Ristine, Maria Madalena é mais um exemplo de liderança feminista, incompreendida nos tempos antigos. Daí que diga: “Maria Madalena foi uma mulher influente tanto a nível económico como social”. Especifica a sua teoria: “A nível económico, porque era uma mulher com posses; a nível social, porque, vivendo numa sociedade religiosa que a restringia, foi capaz de ultrapassar essas fronteiras e tornar-se uma seguidora de Jesus.” Ou seja, conclui Jennifer Ristine que Maria Madalena é “um modelo de liderança [feminina] para as mulheres naquela época.”
A investigadora baseia-se no resultado das escavações realizadas nos últimos anos naquela que se crê ser a terra natal de Maria Madalena, a atual localidade israelita de Migdal e antiga Magdala, onde Jennifer Ristine é diretora do instituto que, entre outras ocupações, reabilita o nome da ex-mulher adúltera. O livro, que a imprensa espanhola já deu destaque, reúne muitas dessas novas provas retiradas do subsolo da região, colocando Migdal como um “antigo povoado próspero na indústria pesqueira no tempo de Maria Madalena”.
A autora também inclui uma nova leitura de muitas das referências bíblicas e históricas ao longo dos tempos, documentação que segundo Jennifer Ristine proporciona uma nova visão de uma figura que sempre foi incluída do círculo mais íntimo do fundador do Cristianismo. Principalmente, desde o momento em que foi descoberta uma antiga sinagoga do século I naquele que será o antigo povoado onde nasceu Maria Madalena.
As escavações tiveram início na década de 1970 mas foi já neste século, em 2009, que os Legionários de Cristo adquiriram uma propriedade na região e reforçaram os trabalhos arqueológicos onde, segundo Jennifer Ristine, tiveram a sorte de descobrir na parte norte da antiga localidade pesqueira no interior da sinagoga uma peça com a representação em pedra de um templo de Jerusalém, em que surgiam motivos como os banhos rituais de purificação, um porto e cenas da vida doméstica. A famosa Pedra de Magdala segundo referem os arqueólogos.
É através deste achado que a diretora do Instituto Magdala considera que se pode refazer em muito a imagem errada de Maria Madalena perante a História, alegadamente a primeira mulher a ver Cristo após a ressurreição, e a quem o Papa Gregório Magno definiu como sendo a mulher que no evangelho de Lucas surge como sendo a pecadora de quem foram “expulsos os sete demónios” que representavam “todos os vícios”. Ristine faz questão de imputar também culpa para esta impressão histórica desta interpretação de Maria Madalena aos judeus, recordando que no Talmude se encontram referências a uma “Miriam Megaddlela”, também conotada com a prostituição.
Enquanto o livro de Jennifer Ristine começa a ser conhecido em todo o mundo, continuam as escavações arqueológicas na propriedade que os Legionários de Cristo. A autora considera que ainda há muitas descobertas para fazer na cidade onde Maria Madalena nasceu, o que poderá refazer de forma mais real a sua biografia. A importância destas descobertas arqueológicas é também referendada pelo editor do site Aleteia, John Burger, autor de vários trabalhos em revistas católicas, entre elas na da Arquidiocese de Nova Iorque, num artigo em que considera haver novas provas sobre a conduta de Maria Madalena devido às descobertas em Magdala.
Para John Burger, os investigadores e académicos vão poder reformular a identidade de Maria Madalena com as descobertas em Israel. Considera que a informação sobre as suas posses financeiras permitem afirmar que era uma das mulheres que “suportavam financeiramente Jesus”, referência que existe no Evangelho de Lucas.
Maria Madalena seria cidadã de uma cidade em que a indústria pesqueira era uma grande fonte de riqueza para a população, tanto que etimologicamente o nome grego da povoação era Magdala Tarichaea, que se pode traduzir como a “cidade onde se salgava o peixe” e uma das localidades mais importantes da Galileia neste setor económico. John Burger socorre-se no seu artigo no site Aleteia de um pormenor histórico que é a explicação da estudiosa da Bíblia Tina Wray, da Universidade Salve Regina de Newport: “Magdala era a maior cidade da Galileia” e as escrituras sagradas suportam a premissa da influência de Maria Madalena.” Acrescenta: “Quando era mencionada uma cidade relacionando-a com uma mulher na Bíblia, significava por norma que essa mulher era rica ou de estatuto social elevado. Ou seja, há evidências de que era uma mulher de posses.”
A estudiosa da Bíblia vai mais longe: “Acredito que Maria Madalena era uma viúva idosa e rica que servia Jesus como companheira, confidente e amiga. O facto de ter estado presente nos momentos mais importantes, como a crucificação e ressurreição, demonstra que era uma discípula corajosa e sempre presente”, ou seja, acrescenta, “um apóstolo de confiança” para Jesus.
Para John Burger, as contínuas descobertas arqueológicas financiadas pelas universidades Anáhuac e Autónoma do Mexico e a Autoridade Israelita das Antiguidades, só vêm dar consistência às teses do Instituto. No mesmo site da Aleteia, conta-se a história desta cidade e explica-se como as descobertas arqueológicas na sinagoga são importantes para a reinterpretação da história de Maria Madalena, bem como de Cristo. Designadamente o achado da Pedra de Magdala, considerada pelos peritos como uma das mais excecionais descobertas religiosas dos últimos 50 anos.
Fonte: DN.